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Processo de beatificação de Madre Agathe Verhelle é oficialmente aberto
Cerimônia na capital de Pernambuco marcou início oficial do inquérito arquidiocesano; Missa foi presidida por Dom Paulo Jackson, arcebispo de Olinda e Recife23/06/2025 às 09h10
O Recife viveu um momento histórico para a Igreja Católica: a abertura oficial do processo de beatificação e canonização de Madre Agathe Verhelle, fundadora do Instituto das Religiosas da Instrução Cristã, presente no Brasil há mais de um século. A solenidade ocorreu, neste domingo, no Colégio Damas, reunindo autoridades eclesiásticas, religiosas, leigos, educadores, alunos e fiéis.
A programação foi composta por dois momentos solenes: a sessão oficial de instalação do tribunal do inquérito arquidiocesano e a Missa em Ação de Graças, presidida pelo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson, com a participação do Bispo Auxiliar, Dom Josivaldo Barbosa, do postulador da causa, Frei Jociel Gomes, religiosas, sacerdotes e a comunidade.
Sessão solene formaliza abertura do processo
Na primeira parte do evento, Dom Paulo Jackson declarou oficialmente aberta a primeira sessão do tribunal responsável pelo inquérito arquidiocesano. A cerimônia seguiu o protocolo do Dicastério para as Causas dos Santos, do Vaticano, com a leitura de documentos oficiais, incluindo a resposta positiva da Santa Sé, que, após consulta realizada em outubro de 2024, confirmou não haver impedimentos para o avanço do processo.
O arcebispo também nomeou oficialmente os membros da Comissão Histórica, composta por especialistas, professores e religiosas, responsáveis por investigar, coletar e autenticar documentos, além de analisar a vida, os escritos e a espiritualidade de Madre Agathe.
Todos os oficiais do tribunal — promotores, notários, peritos e o próprio postulador — prestaram juramento de compromisso com a verdade, com o rigor científico e com o sigilo, conforme exige o processo canônico.
“O testemunho de Madre Agathe fala ao nosso tempo. Ela foi uma mulher que soube discernir, com fé, os desafios do seu contexto histórico e encontrou no serviço à juventude e na educação um caminho de santificação. Sua vida continua sendo luz para a Igreja e para as novas gerações, especialmente num tempo em que tanto precisamos evangelizar os jovens”, destacou Dom Paulo em sua fala na sessão.
O postulador da causa, Frei Jociel, reforçou que essa é uma causa histórica, por isso exigirá uma extensa pesquisa documental, análise criteriosa e escuta de testemunhos. Ele convidou os fiéis a colaborarem, enviando relatos de graças ou favores atribuídos à intercessão de Madre Agathe.
Missa celebra fé, esperança e missão
Logo após a sessão, foi celebrada a Missa em Ação de Graças, que reuniu dezenas de religiosas, membros da comissão, educadores, alunos, ex-alunos e famílias. A homilia de Dom Paulo trouxe uma reflexão profunda sobre a espiritualidade cristã, o seguimento de Jesus e a cruz como caminho para a santidade.
“Assim como o personagem do filme O Quarto Sábio, que passou a vida inteira buscando Jesus no rosto dos pobres, Madre Agathe também viveu uma vida de busca e de entrega. Sua vida foi um itinerário de fé, de discernimento, de coragem, e de serviço ao Reino, especialmente pela educação da juventude. Como ela, somos chamados a viver nossa identidade batismal e a colocar nossa vida a serviço do outro, na certeza de que, na cruz e na ressurreição, encontramos a verdadeira face de Cristo”, afirmou o arcebispo.
Uma vida que continua transformando gerações
Em sua fala ao final da celebração, a Superiora-Geral do Instituto das Religiosas da Instrução Cristã, Irmã Eulalia Maria, destacou a importância histórica e espiritual desse momento para a congregação e para a Igreja.
“Hoje é um dia de luz, esperança e comunhão. Celebramos, com o coração profundamente agradecido, a abertura oficial do processo de beatificação e canonização de nossa fundadora. O testemunho de Madre Agathe, sua fé viva, seu amor ardente pela juventude e sua coragem profética continuam a nos inspirar a seguir firmes na missão de educar, evangelizar e transformar vidas, especialmente nas escolas, nas comunidades inseridas e nas paróquias onde estamos presentes. Agradecemos profundamente à Arquidiocese de Olinda e Recife, na pessoa de Dom Paulo, por acolher essa causa com tanto amor”, declarou Irmã Eulalia.
Um chamado à oração e ao testemunho
O processo agora segue na fase arquidiocesana, com a coleta de depoimentos, documentos e análises históricas. Ao final da celebração, foi feito um apelo para que fiéis que tenham recebido graças ou favores por intercessão de Madre Agathe comuniquem oficialmente às religiosas, ao postulador da causa ou diretamente à Arquidiocese, com a devida documentação.
Para isso, foi criado um e-mail causamadreagathe@institutoric.org. Um perfil no instagram também já poder ser seguido por meio do endereço instagram.com/madreagatheverhelle
Quem foi Madre Agathe Verhelle?
Madre Agathe Verhelle (1786–1838) foi uma mulher de fé, coragem e visão, que viveu em um contexto de profundas transformações sociais e religiosas na Europa, após a Revolução Francesa. Sensível à realidade da juventude, especialmente dos mais pobres e abandonados, ela sentiu-se chamada por Deus a responder com generosidade aos desafios do seu tempo.
Em 1823, fundou, na Bélgica, o Instituto das Religiosas da Instrução Cristã, com a missão de educar, evangelizar e formar a juventude, promovendo a dignidade humana, a fé e a transformação social. Em apenas 15 anos, estabeleceu sete comunidades na Bélgica, consolidando um projeto educacional e evangelizador que logo atravessaria fronteiras, chegando posteriormente ao Brasil, na América Latina, e à África.
Madre Agathe viveu de forma intensa o carisma de “Consagrar-nos a Deus e sacrificar-nos inteiramente a serviço da juventude, em toda parte, onde possamos cooperar na propagação da Glória de Deus”. Sua espiritualidade era marcada pela humildade, simplicidade, amor ardente a Deus e serviço à juventude, especialmente através da educação cristã.
Faleceu no dia 1º de dezembro de 1838, aos 52 anos, deixando um legado que permanece vivo há mais de dois séculos. Seu testemunho continua inspirando gerações de religiosas, educadores, leigos e leigas na missão de revelar ao mundo a face do Cristo Educador, especialmente nas escolas, nas comunidades inseridas e nas paróquias onde o Instituto está presente.
A causa está sendo aberta na Arquidiocese de Olinda e Recife porque, segundo as normas do Direito Canônico, a causa pode ser aberta em uma diocese onde a pessoa tenha exercido de forma significativa seu carisma e sua missão. No caso de Madre Agathe, a missão das Religiosas da Instrução Cristã tem uma história profundamente enraizada no Brasil, especialmente em Pernambuco, onde o Instituto mantém há mais de um século uma forte atuação na educação, na evangelização, nas comunidades inseridas e no serviço à juventude.
Foi, portanto, por solicitação do Instituto das Religiosas da Instrução Cristã e com a anuência da Santa Sé, que a Arquidiocese de Olinda e Recife acolheu oficialmente o pedido de abertura do processo, reconhecendo o valor e o impacto desse carisma para a Igreja local e para o mundo.